Ao terminar os estudos universitários em composição e saxofone, enriquecendo uma prévia formação clássica em clarinete, o jovem William Basinski iniciava o desenvolvimento de uma linguagem musical peculiar. Era 1978 e, entusiasmado com o inconformismo artístico revelado pelas bandas punk que admirava, começou a adquirir velhos gravadores de bobinas. Utilizando-os, iria acumular centenas de gravações em curtos pedaços de fita magnética, podendo ser reproduzidos em constante repetição: os loops que o haveriam de tornar célebre.
Inspirado pelas ideias de Brian Eno, John Cage e Steve Reich, aprimorou um estilo minimalista, focado na mais pura essência melódica, devaneando entre a contemplação e o aconchego. Embora tenha com frequência apresentado o seu trabalho em público, a primeira edição apenas ficaria disponibilizada, em vinil, década e meia após a música ter sido concebida.
Quatro anos depois, produz uma obra aplaudida pela imprensa musical especializada, The Disintegration Loops, cuja génese coincidiu com o dia 11 de Setembro de 2001. Basinski estaria a digitalizar loops antigos armazenados em fita deteriorada, que se ia fragmentando cada vez mais ao ser continuamente tocada. Ao longe, nuvens de fumo negro emanavam das torres do World Trade Center. Dando origem a quatro discos, as gravações dessa decomposição assemelham-se à rebentação das ondas na areia da praia, o som trémulo e repetitivo interrompido pelo inconstante ruído do vento.
Seguiram-se diversos álbuns que não desapontam apreciadores da moderna música ambiental. O mais recente A Shadow in Time, de Janeiro de 2017, é composto por duas faixas: a primeira é uma homenagem a David Bowie, enquanto, na seguinte, Basinski recupera o VoyetraEight, um sintetizador obsoleto.
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William Basinski, músico e compositor nova-iorquino (n. 1958), trabalha em música experimental há cerca de 30 anos pelos EUA tendo-se fixado, mais recentemente, na Califórnia. Com a utilização de tecnologia obsoleta e loops de fitas analógicas, as suas paisagens sombrias e melancólicas exploram a natureza temporal da vida e ressoam com as reverberações da memória e do mistério do tempo.
A obra-prima The Disintegration Loops, muito aclamada pela crítica internacional, foi escolhida como um dos 50 melhores álbuns de 2014 pela Pitchfork Media.
Instalações e filmes realizados em colaboração com o cineasta James Elaine marcaram presença em festivais e museus internacionais, e os seus concertos foram apresentados a plateias esgotadas por todo o mundo.
Recentemente, Basinski foi escolhido pelo director musical AntonyHegarty para musicar a ópera The Life and Death of Marina Abramovicde Robert Wilson, com estreia mundial no Festival Internacional de Manchester em Julho de 2011,digressão europeia em 2012, e pelo norte da América em 2013.
As transcrições orquestrais de The Disintegration Loops por Maxim Moston foram apresentadas no The Metropolitan Museum of Art, no Queen Elizabeth Hall e no La Batie Festival, em Geneva.
Basinski está em digressão pelo mundo com o seu último trabalho A Shadow in Time (for David Robert Jones), lançado no fim de 2016 pela 2062/USA.
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A Shadow in Time: William Basinski Review – multi-layered and hypnotic @ The Guardian
William Basinski’s A Shadow In Time is the tribute David Bowie deserves @ Fact Mag
fotografia de Ben Millar Cole @ St John Sessions (2013)