Esta oficina pretende aprofundar a lei da correspondência no âmbito do movimento livre criativo e da expressão corporal, a relação entre opostos simétricos a vários níveis.
Uma relação entre opostos simétricos. Assim somos. Assim agimos.
O paradoxo está em presença constante não só no nosso quotidiano, como também no seio da dança, do movimento, da expressão. Nenhummovimento que concretizamos é vazio, inócuo. Muito pelo contrário. Ele imbui-se de simbolismo, de momentos paradoxais, de lutas e aceitações interiores. Na sua própria criação, subjaz um paradoxo: o da autoconsciência física, o do conhecimento que conduz à tendência da repetição do movimento (território que conhecemos, linguagens de dança, ou zona de conforto do movimento) versus criatividade, originalidade, virgindade de expressão, espontaneidade, inovação. Daí a proposta desta oficina: dar um passo mais além na criação de movimentos e expressões, sabendo, de antemão, que estimular a autoconsciência física é, também, sinónimo de avanços na criação, ainda que por outro lado nos conduza tendenciosamente a expressarmo-nos de forma mnemónica. O paradoxo é, pois, correlação entre opostos; um jogo harmonioso entre contrários.
Mostra-me um movimento e dir-te-ei quem és.
Um pequeno gesto ou movimento é símbolo vivo, incorporador de toda a nossa existência paradoxal; expressa, imanaa nossa experiência de vida. É génese. É uma revelação de quem somos, da nossa essência. Os símbolos em formato de movimento representam, portanto, pontos de referência, sinais que nos permitem a identificação das impressões da mente e do espírito e atribuem significado à expressão de sentimentos, como parte da nossa vida.
Então, será a dança um caminho de correlação entre acontecimentos e fenómenos interiores e exteriores a nós; um caminho de lidarmos connosco próprios, em auto-observação, focados sobre nós mesmos e, simultaneamente, emabstracção, libertando-nos do truque do pensamento controlador. Nesta busca de compreensão existencial, lidaremos com a ordem e o caos interior/exterior, a aceitação (de conhecimento) e a ruptura (com o conhecido), as diferenças e semelhanças (intrínsecas e extrínsecas —de nós mesmos para com os outros) na identificação e auto-afirmação (para com um outro).
Esta é a busca incessante do equilíbrio e auto-conhecimento, através da lei da correspondência, num espaço-tempo dedicado à canalização de emoções interiores, por meio do aprofundamento dos terrenos do movimento livre criativo e da expressão corporal.
Trata-se de uma viagem que vai para além do corpo físico; uma odisseia interior que decorre do trabalho com diferentes técnicas de auto-consciência e libertação, criatividade e improvisação, promovendo questões de índole psico-emocional, ao mesmo tempo que se focaliza em pontos físicos, essenciais à evolução do movimento.
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Cristina Novo é formada de raiz em ballet clássico (Royal Academy of Dance),ballet moderno/jazz (Imperial Society of Teachers of Dancing) eSociologia, aditando formação contínua em vários estilos de dança, expressão e movimento —«From the Body», «Bestiaire»(João Costa), Teatro do Gesto (Companhia Chapitô —Lisboa), entre outros, Cristina Novo exerce funções de professora de Dança Criativa, no Porto e em Espinho, e de formadora de workshops de Movimento Livre Criativo e Expressão Corporal a nível nacional (Boom Festival 2014, Cidade+ 2015, Jardins Efémeros 2016) e local (formando diferentes públicos em múltiplos espaços).
Com mais de 30 anos de palco, continua a realizar performances, sendo o seu ponto forte o do improviso/interpretação. Constam de entre as últimas:
- «It ain’t just a kind of mood» &«Absorption», ColectivoSarilho, JardinsEfémeros, Viseu, 2016;
- «From Me to You», «Soul Blending»(Espectáculos Coop. Nascente, Auditório da Academia de Música de Espinho, 2015/2016);
- «2 LadieShow», Performer, com voz e guitarra de Raquel Lourenço —Encontro Nacional de Pintores de Cavalete (Org. Coop. Nascente, Espinho, 2016);
- «Paloma Negra», Performer e Moderadora —Ciclo Dança(s)—Debate sobre Dança Contemporânea (Org. Coop. Nascente, Auditório Nascente, Espinho, 2016);
- Performance Ritualística para IMAGO Film Project (documentário com estreia em 2017), do realizador Rui Pedro Lamy (https://www.facebook.com/imagofilmproject/videos/) (2016);
- Intérprete no projecto artístico multidisciplinar «Movimento Lusófono»(AndreasTarabbiaPancho—Cinanima 2014).