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VICA PACHECO (MX)

Som
VICA PACHECO (MX)

Local
Adro da Sé de Viseu
Horário
08 JUL às 23H00

ANIMACIDADE

OU

UM MANIFESTO DE RESPIRAÇÃO

Se a música é um efeito da respiração do cantor, esses objectos estão vivos?

VICA PACHECO

Se o Ocidente domina, aqui conversamos.

Se o Ocidente explodir, aqui cuidamos.

Se o Ocidente prevalece sobre todas as coisas;

Aqui é o mesmo com tudo o que nos rodeia.

Projecto Andino de Tecnologia Campesina (PRATEC)

Quando silenciámos o mundo?

Quando o declarámos acabado e singularmente nosso?

Quando perdemos as formas profundas de construir a fala que reside além dos limites corporais estritos? Esta investigação começa com a energia de um processo de desaprendizagem. De silêncio, para nos conectarmos com o primal e ouvirmos os sussurros dos nossos ancestrais pré-colombianos.

As criaturas de Vica Pacheco (Oaxaca, 1993) alimentam-se das sensibilidades acordadas pelos nossos ancestrais. Nas épocas anteriores, antes da Conquista e da desapropriação do território que hoje chamamos de América, o mundo não era apenas habitado com o que era vivo (alt), mas também com o que está entre a vida e a morte (xoco) e o que é partilhado com os espíritos (octli).

Essas criaturas (canais assobiadores) afastam-se do pensamento racional para recuperar o canal de comunicação entre todos os seres que coexistem no mundo. Eles vão além da sua essência como superfícies que se comunicam com a nossa pele (com o nosso mau hábito de querer entender tudo o que nos rodeia). O pensamento racional foi desenvolvido num mundo hierárquico e inanimado que simplesmente categoriza o mistério para evitar a responsabilidade de compreendê-lo, muito menos de conviver com ele.

A animacidade ou um manifesto de respiração encontra no canal a possibilidade da empatia por quem partilha a sua fisiologia que contém, mas também que liberta e convoca. A tecnologia pré-colombiana espelha a tecnologia contemporânea na forma como explora as múltiplas direcções da comunicação e a sua estrutura rizomática, estendendo-se muito além do corpo.

O animismo não se limita a avançar ou a voltar no tempo com a capacidade de atualizar e de se tornar um pássaro, uma onça, um pôr do sol ou um leito de morte. A sua metamorfose nunca cessa, e descobre, criando extensões, um ponto de superação para os supostos limites do corpo.

Os canais que compõem esta orquestra são um reflexo das tecnologias de comunicação às quais os nossos ancestrais confiaram o seu futuro.

Durante a performance, Vica Pacheco entrega a sua individualidade, utilizando o seu corpo para se transformar num canal de assobios da sua orquestra e comunica através da respiração e do som. Por um momento, mais seres podem reivindicar o seu espaço na sala. Nesse acto de reconhecimento mútuo, o artista e as criaturas estão igualmente vivos.

Eles recebem e compartilham uma respiração. «Unidos por uma cumplicidade íntima, são gémeos ontológicos» (Sloterdijk, 2011: 44).

A prática de Vica habita entre o ritual e a tradução, onde a cura se torna um diálogo que entende que, se tudo está vivo, a conversa supera a palavra e a fala pode ser renovada por meio de afectos, sensações e percepções.

Eu encontro no som desta orquestra um antídoto antropocêntrico.

O ambiente sonoro criado por estas criaturas abraça a identidade fraturada das avós que convocam a chuva a cada época de semeadura. Foi dito que elas estavam certas e que o seu conhecimento foi construído a partir de uma compreensão diferente da fala; nesse ambiente, o futuro é realmente imaginado pelas diferentes perspectivas vivas, divergentes, colaborativas e mutáveis ​​que o habitam.

Ao ofuscar o fluxo das palavras, chama a atenção para a respiração e para a sua capacidade de sintonizar com o falante.

Dea Lopez

Oaxaca, 2021.

Cofinanciado por OVERTOON e o programa Creative Europe da União Europeia

 

 

BIO

Vica Pacheco nasceu em Oaxaca, no sul do México, em 1993. Vive e trabalha em Bruxelas. Na sua prática multifacetada, ela combina música electroacústica, arte sonora, vídeo-animação e escultura. A sua performance Animacy Or A Breath Manifest surgiu a partir de uma investigação sobre instrumentos pré-colombianos da Mesoamérica, feita a partir de cerâmica conhecida como canais de assobio. Isso resultou numa série de esculturas sonoras hidráulicas que abrem todo um novo universo sónico, no qual a respiração, a organicidade e a energia são elementos centrais. Ao fazê-lo, Pacheco baseia-se em antigas práticas musicais e rituais, bem como significados mitológicos.

 

 

 

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