Entre o sentir e o desejar, é nesse intervalo, no vazio emocional, que encontro um corpo informe, invisível, abstracto. Na osmose visceral, na busca do infinito do corpo. O corpo pode ser visto como uma coisa física concreta, finita, ou como um corpo que se transcende, que se evapora em paisagens mentais. Interessa-me a dualidade, interior (sentir, corpo mental) e exterior (o que rodeia o corpo, o que o faz sentir). É esse espaço que procuro representar numa dialéctica entre o corpo e a mente, entre sentir e agir, no espaço abstracto do eu.
António Silva 2018
É afirmar que, nas experiências de pura inscrição (uma vez que conduzem sem nenhuma consideração pelo conteúdo), é o corpo e apenas o corpo que se envolve: retirem o sentido, e resta o corpo, por vezes obrigado, outras gratificado.
O que posso eu ler de mim mesmo? Não sou precisamente o que escapa à minha leitura? Que posso eu conhecer do meu corpo? Uma imagem especular invertida e plana. Que posso eu conhecer da minha escrita? Apenas o seu grau de conformidade com a cultura que me rodeia, a alguns modelos estimáveis. Quanto ao resto, apenas conheço da minha escrita o que conheço do meu corpo: uma cinestesia, a experiência de uma pressão, de um impulso, de um deslizamento, de ritmo: uma produção, não um produto, um prazer, não uma inteligibilidade.
R. Barthes, O Prazer do Texto precedido de Variações sobre a Escrita
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António Silva, Viseu, 1976. Formado nas Caldas da Rainha 1995-2000, explora vários suportes artísticos entre o desenho, a escultura e o som.