Com esta intervenção efémera queremos apresentar uma proposta.
Uma proposta para os nossos tempos rápidos pode passar por irmos devagar, muito mais devagar. Lentamente, muito lentamente, mas de forma constante, linear e pensada. Ir devagar não significa ser lento. É o limite entre o rápido e o lento.
Não ter o tempo é como não ter nada.
E isto não significa que vamos chegar tarde, mas sim que chegamos da melhor forma possível. Optar por fazer coisas pensadas é a melhor maneira de fazer realmente alguma coisa.
Fazer coisas lentamente significa que temos de parar nos lugares e viver realmente esses lugares. Nesse tempo lento a vida cria surpresas, emoções, com as quais aprendemos a sentir o lugar de uma outra forma que não com a constante rapidez dos nossos dias. Significa que, com o tempo, podemos aprender e “reflectir para dentro”, reconhecer os outros e o que nos rodeia numa aprendizagem nova que permanece.
As emoções são assim um momento de vida compartilhada. Será essa a intenção destas propostas efémeras? Uma aprendizagem efectiva e real que permaneça com e no tempo?
Quando paramos para pensar lentamente tudo é novo, tudo aparece pela primeira vez. Surgem então as emoções que os lugares nos transmitem.
Lugares onde se pode ser, sem ser igual aos outros, onde podemos sentir as suas energias e os deuses que os habitam.
Devagar podemos ver, cheirar, ouvir melhor, sentir as mudanças de temperatura, a carícia do vento, o arrastar das sombras projectadas pelo sol no movimento de rotação da Terra.
Sentir o espaço é uma maneira de estar sozinho entre os outros, mas sempre devagar, muito lentamente.
Condições técnicas
A proposta para este jardim passa por pensar naquilo que pode ser essencial para criar um espaço que quer estruturar a praça D. Duarte e criar uma vivência colectiva e múltipla.
Com a disposição das árvores em linha recta, espaçadas com idênticos intervalos entre si, pretendemos criar uma geometria e ritmo que se relacionem e criem novas perspectivas com o espaço envolvente.
Escolhemos 280 árvores iguais, frondosas, de copa arredondada e avermelhada, para criar uma grande copa, acima do nosso olhar, de forma a esboçar visualmente uma sensação mais horizontal e, de certa forma, criar uma escala mais humana na praça, como se de um viveiro de plantas se tratasse.
Por outro lado, gostaríamos de promover um possível “diálogo” entre as árvores, os edifícios e os elementos que constituem a praça — estátua D. Duarte, esplanadas e mobiliário urbano.
No intervalo que remanesce entre as árvores, uma clareira no meio do “viveiro”, emerge um duplo anfiteatro constituído por 20 toneladas de madeira maciça, que se correlaciona com a estátua do Rei, criando dois anfiteatros e dois espaços nucleares no plano inferior. Apreciar a praça e a vida da cidade num plano superior, como nunca antes aconteceu, pode gerar novas perspectivas e diálogos.
Três mesas de madeira maciça pretendem criar zonas de estar e de descanso. Uma dupla cascata eleva-se a 10 metros do chão e projecta-se acima da copa das árvores de forma a marcar o ritmo do tempo.
No adro da Igreja da Misericórdia, uma estrutura porticada em metal, com 4 metros de altura por 22 de comprimento, decorada com 70 vasos, serve de “boca de palco” para os concertos.
Equipa de montagem e apoio técnico
Atelier do Rossio Arquitectura e Design
Paulino Pinto Loureiro Serralharia Civil
Visferaço — Fabricação, Comércio e Estruturas em Ferro e Aço, Lda
Apolino Jesus Dias