O Cansaço do Tempo evoca o tempo suspenso e a dificuldade no seu controlo. Em núcleos negros, O Cansaço do Tempo apresenta-se etéreo, quase apagado pelo invólucro. Autónomo, em mancha, em grafismo matemático pelas horas de um dia. Em suspenso sussurro. O tempo.
Por vezes o tempo também se cansa em ser tempo.
Adormece as pessoas, faz-se apagado para que não o notem.
Vai sendo o que ele quer, como deus.
Atrasa-se, acelera-se, brinca com os relógios.
Muda os ponteiros de lugar, até suga as pilhas.
E aos relógios que não têm pilhas por vezes avariam as máquinas.
Quem inventou e usa relógios sempre quis controlar o tempo,
e, desde então, o tempo cansou-se do seu cronometrado ritmo.
A vingança do tempo acontece quando dormes.
Enquanto dormes o tempo baralha as imagens.
Assim, os sonhos são um passeio por outros e distintos tempos
o que nos torna voláteis e despregados da cama.
Por isso, todos queremos morrer em sono à noite,
pois é à noite que, por norma, dormimos.
Se morrêssemos de manhã,
morreríamos na monótona métrica do tempo
agarrados ao seu previsível discurso de tiques e taques
e não no seu imprevisível roteiro de criança aluada.
Ano | 2012
Técnica | Tecido, fio, anel metálico e mecanismo
Bio
Rui Effe vive e trabalha entre Braga e Lisboa. Licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto; pós-graduação em Direcção Artística pela Escola Superior Artística do Porto; pós-graduação em Comunicação Artística e Expressão Plástica na Universidade do Minho e mestrado em Artes Plásticas e Comunicação Visual na Universidade do Minho; doutorando da Faculdade de Belas-Artes de Pontevedra, professor no IPCA; professor convidado na Universidade do Minho.