“O conjunto de obras que apresento neste projecto faz parte de um momento criativo que tenho vindo a adiar e que, finalmente, tomará forma nesta exposição. Encaro-o como um parênteses, não dos que isolam ou informam, mas dos que abrem e desdobram uma realidade.
Estes trabalhos têm um método de revelação que remete quase para os inícios da fotografia, na medida em que, numa fina película de contacto, se revela uma superfície invertida. O processo é simples: revelar o acumular de resíduo debaixo dos plásticos de protecção do chão do atelier. Esta série remete portanto a uma escala real e não a um ponto de vista exterior e distante do que foi desenhado.”
É de contactos que estes trabalhos são essencialmente feitos. O contacto nesta exposição é mostrado ao contrário. É revelada a sua face escondida: não se trata do que estamos habituados a ver aplicado na folha, mas o que toca a superfície, escondido pelo toque, pelo tempo.
Tive que dar um passo atrás e reunir resíduos de trabalhos que fiz no passado. A esses, juntei os resíduos de trabalhos recentes. Marcas no atelier à espera de serem descartadas ou de activação… Teimei em guardar estas superfícies rasgadas e (in)significantes porque nelas estava impresso o gesto peripatético da produção de obras. Na maior parte dos casos são trabalhos que marcam uma temporalidade e uma espacialidade, são resíduos de acções de passagem — espaços de peças ausentes.
“Vive o presente”, dizem alguns. O presente só em aparência é tangível; na realidade é o que há de mais irreal. A pureza do presente reside nas suas impurezas. Se queremos que a realidade exista temos que a recriar, constantemente.
Desenhar não se trata de se restringir a um “médium”, a um enquadramento, desenhar é o infinitivo de desenho. É quando no atelier posso trabalhar os limites e fronteiras do que estava projectado.” Diogo Pimentão
Ano | 2016
Técnica | Desenho
Bio
Diogo Pimentão nasceu e estudou em Lisboa. Viveu quase uma década em França e depois mudou-se para Londres onde vive e trabalha há aproximadamente 4 anos. É um artista que se interessa particularmente pelo desenho, género que activa, enriquecendo o estatuto, aumentando dessa forma a nossa experiência sensível.
O artista não é um desenhador no sentido clássico do termo. A sua prática é marcada pela experimentação artística, embora muitas vezes partindo de materiais simples e emblemáticos do desenho como pó de grafite e papel.
Nas suas obras de aspecto recorrentemente monocromáticas, a superfície do papel ou das paredes transformam-se em texturas, extremamente delicadas e simultaneamente fortes e metálicas.
O artista permite assim que a técnica do desenho ultrapasse os seus próprios contornos abrindo-se a múltiplas formas e processos. Os seus processos de realização, actos verdadeiramente fundamentais na sua prática, abolem a fronteira entre desenho, escultura e performance.