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Habitar Portugal 12-14 | Está a arquitectura sob resgate?

Arquitectura / Exposição
Luís Tavares Pereira
Bruno Baldaia
Magda Seifert
Comissários Habitar Portugal 12-14, um projecto da Ordem dos Arquitectos
exposicao
Local
Pavilhão Mundo Português
Rua José Branquinho
(em frente à Associação dos Bombeiros Voluntários), s/n,
Viseu
Horário
Dia 1 a 10 de Julho
Mecenas
Patrocínio exclusivo Cinca e Mapei 

HP 12-14 pretende olhar a produção arquitectónica portuguesa do triénio a partir de duas ideias fundamentais. A primeira decorre do momento de austeridade que o País vive, a que a produção de arquitectura não será alheia. Recuperar as quatro edições anteriores, e assim encontrar os registos que o lastro que elas deixaram faz emergir, em contraste ou continuidade com o momento que vivemos, é a segunda. Crise, resgate e palimpsesto são as marcas da condição actual e estão presentes no quotidiano e na paisagem do país onde hoje vivemos. Que impacto têm na arquitectura em Portugal?

Está a arquitectura sob resgate?

A selecção de obras de arquitectura reunidas nesta edição Habitar Portugal faz-se perante uma pergunta: está a arquitectura sob resgate? O resultado pretende ser, mais do que uma conclusão, uma reflexão em aberto. As oitenta obras que aqui se apresentam são, cada uma delas, propostas para a construção da percepção de um momento significativo para a arquitectura portuguesa. O tema proposto deve ser lido como um enquadramento e os critérios para a sua reunião, previamente comunicados, são um seu suporte. O período a que esta edição corresponde, 2012-2014, é coincidente com o programa de resgate financeiro a que Portugal esteve sujeito. Quis-se, por isso, analisar e compreender o impacto que inevitavelmente este facto teve na prática dos arquitectos portugueses. A observação destas obras não torna evidente uma preocupação específica com os programas ou as actuações que, de uma forma ou de outra, incorporaram a actual situação social, política e económica como um seu motivo. Procura, antes, perceber qual o impacto desse estado que ainda não sabemos quanto de transitório terá, de que formas se manifesta e que consequências deixa. A arquitectura é uma prática social e, por isso, dependente e condicionada pelos meios através dos quais as sociedades projectam em forma, objecto e espaço, o momento por que passam. Ao mesmo tempo tem um autor ou autores, o que significa que cada arquitecto é um filtro que reorganiza ideias várias e de proveniências distintas e as materializa numa obra. A arquitectura é ainda uma prática autoral por muito que queira participar de fenómenos alargados ao espaço social onde se move. As obras que aqui se apresentam são disso testemunho, a variedade de opções, práticas e posicionamentos é evidente mesmo quando as queiramos olhar desde um enquadramento determinado.

Esta é a quinta edição do Habitar Portugal que cobre assim os quinze anos de produção arquitectónica portuguesa desde 2000. É uma altura oportuna para cruzar as suas sucessivas concretizações e, perante a percepção do momento em que vivemos, reflectir sobre a acumulação de registos que, sobrepondo-se, nos permitem uma imagem de uma passagem alargada de tempo pela arquitectura portuguesa. Esse cruzamento, a que naturalmente se chamou palimpsesto, conduziu ao reconhecimento de um processo contínuo de mudanças profundas. As alterações no ensino da arquitectura e a multiplicação pelo país de novos cursos públicos e privados e, com isso, uma disseminação de processos distintos de formação, são um dado novo neste espaço de tempo. O reconhecimento público de que foi sendo alvo, sobretudo através dos seus autores mais mediáticos, e a importância crescente da participação dos arquitectos no mercado da construção, com as discussões sucessivas sobre a sua autonomia disciplinar e o seu estatuto social e legal são temas presentes mesmo que em permanente reenquadramento. A presença cada vez mais natural da internacionalização dos seus agentes contribuiu para uma visibilidade social dos arquitectos e da arquitectura que transbordou os tradicionais meios disciplinares para a sua divulgação e discussão. Ao mesmo tempo discutem-se as condições e as oportunidades de uma prática que, mesmo disseminando-se pelo território, não podem senão reproduzir as assimetrias que encontramos em todas as outras actividades, quer queiramos vê-las como uma oportunidade, quer como uma limitação.

Habitar Portugal pretende constituir-se como uma manifestação importante que a Ordem dos Arquitectos assume para a divulgação da arquitectura e a discussão das suas políticas públicas. Para isso importa compreendê-la como um fenómeno que se estende no tempo, desde logo porque essa presença extensa pertence à sua natureza, mas é igualmente vital hoje podermos permitir-nos ter estes espaços alargados de reflexão, num momento em que o consumo rápido de imagens e a emergência de novos processos de divulgação e legitimação da arquitectura nos colocam frequentemente perante factos novos que importa considerar e analisar criticamente.

A exposição que aqui se apresenta, que os Jardins Efémeros decidiram acolher, é já a terceira de um conjunto de mostras que percorrerá o país, procurando nas suas diversas manifestações compreender, discutir e reportar o estado e a condição da arquitectura portuguesa, que hoje vivemos considerando o acervo que Habitar Portugal já constitui, tendo a sua apresentação pública inaugural na Galeria Municipal do Porto, numa co-produção com a Câmara Municipal. Para esse efeito, cada exposição é única no seu layout, nos registos vídeo originais das obras da região, na parede/mesa que reúne os elementos de um processo de trabalho e de reflexão do comissariado, que se estenderá ao longo da totalidade do processo de itinerância, contribuindo com conteúdos originais para cada uma, ou na vizinhança, partilha, emparelhamento com outras propostas culturais. Nos Jardins Efémeros, a partilha do espaço com os trabalhos e olhares urbanos e politizados de Alexandre Farto/Vhils, Duarte Belo e Miguel Januário, permite estabelecer novos cruzamentos e acrescentar ou confirmar pistas para a leitura dos temas lançados.

Procurando entender o contexto em que cada mostra HP 12-14 se faz, o destaque é dado às obras geograficamente vizinhas de Viseu, mesmo que de territórios tradicionalmente pouco articulados com a cidade, de onde de resto está ausente qualquer obra nesta selecção: Ampliação Móveis Viriato, Paredes, de Nuno Brandão Costa; Capela Particular no Paço Episcopal de Lamego, de Manuel Botelho; Casa Lagartixa, em Ariz, Marco de Canaveses, de Paula Ribas, Nuno Valentim + Gémeo Luís (designer); e Recuperação da Casa da Granja, Amarante, de José Bernardo Távora.

O processo de resgate da economia portuguesa pressupôs um reajustamento como consequência deste estado de suspensão e reavaliação do seu estado anterior. Os processos de crise foram sendo historicamente momentos fecundos para a arquitectura e para a sua história. Como podemos então ver e perceber este por que passamos agora? Se a arquitectura está sob resgate, como é o seu reajustamento?

 

* Esta exposição tem conferências e debates associados (ver categoria debate e conferência)

 

Imagem | João Morgado

 

Bio

Luís Tavares Pereira (Lisboa, 1966; M.Arch Princeton, 1996). Arquitecto e crítico de arquitectura freelance. Fundou o atelier [A] ainda arquitectura (Porto, 1998) com prática de colaboração com artistas ou curadores. Membro do Parlamento Europeu de Cultura. Comissário de exposições e eventos de arquitectura na Bienal de Veneza, Museu Serralves, Porto 2001, ou Trienal de Arquitectura de Lisboa.

Bruno Baldaia (Coimbra, 1971; MASTER PA ETSAB, 2009), arquitecto e crítico de arquitectura freelance. Doutorando no Grupo Habitar, na ETSAB onde desenvolve tese de doutoramento com o tema El sucio y el limpio, estética y arquitectura en la Europa Occidental de la Post-Guerra sob orientação de Xavier Monteys. Trabalhou como arquitecto na Gaiurb-Urbanismo e Habitação EM (2003-2005).

Magda Seifert (Lisboa, 1980) Arquitecta. Integra a Circo de Ideias. Produziu e organizou os eventos Berlim: Reconstrução Crítica, 2008; Open Source, 2010; Viagens: 1ª Série, 2011; ou Anos 1980, Lisboa, 2012. Foi Assessora do Pelouro Norte 41º da OASRN, (2009-2014). Actualmente colabora com o Canadian Centre for Architecture (CCA) na transição do arquivo de Álvaro Siza para esta instituição. 

exposicao

HP 12-14 pretende olhar a produção arquitectónica portuguesa do triénio a partir de duas ideias fundamentais. A primeira decorre do momento de austeridade que o País vive, a que a produção de arquitectura não será alheia. Recuperar as quatro edições anteriores, e assim encontrar os registos que o lastro que elas deixaram faz emergir, em contraste ou continuidade com o momento que vivemos, é a segunda. Crise, resgate e palimpsesto são as marcas da condição actual e estão presentes no quotidiano e na paisagem do país onde hoje vivemos. Que impacto têm na arquitectura em Portugal?

Está a arquitectura sob resgate?

A selecção de obras de arquitectura reunidas nesta edição Habitar Portugal faz-se perante uma pergunta: está a arquitectura sob resgate? O resultado pretende ser, mais do que uma conclusão, uma reflexão em aberto. As oitenta obras que aqui se apresentam são, cada uma delas, propostas para a construção da percepção de um momento significativo para a arquitectura portuguesa. O tema proposto deve ser lido como um enquadramento e os critérios para a sua reunião, previamente comunicados, são um seu suporte. O período a que esta edição corresponde, 2012-2014, é coincidente com o programa de resgate financeiro a que Portugal esteve sujeito. Quis-se, por isso, analisar e compreender o impacto que inevitavelmente este facto teve na prática dos arquitectos portugueses. A observação destas obras não torna evidente uma preocupação específica com os programas ou as actuações que, de uma forma ou de outra, incorporaram a actual situação social, política e económica como um seu motivo. Procura, antes, perceber qual o impacto desse estado que ainda não sabemos quanto de transitório terá, de que formas se manifesta e que consequências deixa. A arquitectura é uma prática social e, por isso, dependente e condicionada pelos meios através dos quais as sociedades projectam em forma, objecto e espaço, o momento por que passam. Ao mesmo tempo tem um autor ou autores, o que significa que cada arquitecto é um filtro que reorganiza ideias várias e de proveniências distintas e as materializa numa obra. A arquitectura é ainda uma prática autoral por muito que queira participar de fenómenos alargados ao espaço social onde se move. As obras que aqui se apresentam são disso testemunho, a variedade de opções, práticas e posicionamentos é evidente mesmo quando as queiramos olhar desde um enquadramento determinado.

Esta é a quinta edição do Habitar Portugal que cobre assim os quinze anos de produção arquitectónica portuguesa desde 2000. É uma altura oportuna para cruzar as suas sucessivas concretizações e, perante a percepção do momento em que vivemos, reflectir sobre a acumulação de registos que, sobrepondo-se, nos permitem uma imagem de uma passagem alargada de tempo pela arquitectura portuguesa. Esse cruzamento, a que naturalmente se chamou palimpsesto, conduziu ao reconhecimento de um processo contínuo de mudanças profundas. As alterações no ensino da arquitectura e a multiplicação pelo país de novos cursos públicos e privados e, com isso, uma disseminação de processos distintos de formação, são um dado novo neste espaço de tempo. O reconhecimento público de que foi sendo alvo, sobretudo através dos seus autores mais mediáticos, e a importância crescente da participação dos arquitectos no mercado da construção, com as discussões sucessivas sobre a sua autonomia disciplinar e o seu estatuto social e legal são temas presentes mesmo que em permanente reenquadramento. A presença cada vez mais natural da internacionalização dos seus agentes contribuiu para uma visibilidade social dos arquitectos e da arquitectura que transbordou os tradicionais meios disciplinares para a sua divulgação e discussão. Ao mesmo tempo discutem-se as condições e as oportunidades de uma prática que, mesmo disseminando-se pelo território, não podem senão reproduzir as assimetrias que encontramos em todas as outras actividades, quer queiramos vê-las como uma oportunidade, quer como uma limitação.

Habitar Portugal pretende constituir-se como uma manifestação importante que a Ordem dos Arquitectos assume para a divulgação da arquitectura e a discussão das suas políticas públicas. Para isso importa compreendê-la como um fenómeno que se estende no tempo, desde logo porque essa presença extensa pertence à sua natureza, mas é igualmente vital hoje podermos permitir-nos ter estes espaços alargados de reflexão, num momento em que o consumo rápido de imagens e a emergência de novos processos de divulgação e legitimação da arquitectura nos colocam frequentemente perante factos novos que importa considerar e analisar criticamente.

A exposição que aqui se apresenta, que os Jardins Efémeros decidiram acolher, é já a terceira de um conjunto de mostras que percorrerá o país, procurando nas suas diversas manifestações compreender, discutir e reportar o estado e a condição da arquitectura portuguesa, que hoje vivemos considerando o acervo que Habitar Portugal já constitui, tendo a sua apresentação pública inaugural na Galeria Municipal do Porto, numa co-produção com a Câmara Municipal. Para esse efeito, cada exposição é única no seu layout, nos registos vídeo originais das obras da região, na parede/mesa que reúne os elementos de um processo de trabalho e de reflexão do comissariado, que se estenderá ao longo da totalidade do processo de itinerância, contribuindo com conteúdos originais para cada uma, ou na vizinhança, partilha, emparelhamento com outras propostas culturais. Nos Jardins Efémeros, a partilha do espaço com os trabalhos e olhares urbanos e politizados de Alexandre Farto/Vhils, Duarte Belo e Miguel Januário, permite estabelecer novos cruzamentos e acrescentar ou confirmar pistas para a leitura dos temas lançados.

Procurando entender o contexto em que cada mostra HP 12-14 se faz, o destaque é dado às obras geograficamente vizinhas de Viseu, mesmo que de territórios tradicionalmente pouco articulados com a cidade, de onde de resto está ausente qualquer obra nesta selecção: Ampliação Móveis Viriato, Paredes, de Nuno Brandão Costa; Capela Particular no Paço Episcopal de Lamego, de Manuel Botelho; Casa Lagartixa, em Ariz, Marco de Canaveses, de Paula Ribas, Nuno Valentim + Gémeo Luís (designer); e Recuperação da Casa da Granja, Amarante, de José Bernardo Távora.

O processo de resgate da economia portuguesa pressupôs um reajustamento como consequência deste estado de suspensão e reavaliação do seu estado anterior. Os processos de crise foram sendo historicamente momentos fecundos para a arquitectura e para a sua história. Como podemos então ver e perceber este por que passamos agora? Se a arquitectura está sob resgate, como é o seu reajustamento?

 

* Esta exposição tem conferências e debates associados (ver categoria debate e conferência)

 

Imagem | João Morgado

 

Bio

Luís Tavares Pereira (Lisboa, 1966; M.Arch Princeton, 1996). Arquitecto e crítico de arquitectura freelance. Fundou o atelier [A] ainda arquitectura (Porto, 1998) com prática de colaboração com artistas ou curadores. Membro do Parlamento Europeu de Cultura. Comissário de exposições e eventos de arquitectura na Bienal de Veneza, Museu Serralves, Porto 2001, ou Trienal de Arquitectura de Lisboa.

Bruno Baldaia (Coimbra, 1971; MASTER PA ETSAB, 2009), arquitecto e crítico de arquitectura freelance. Doutorando no Grupo Habitar, na ETSAB onde desenvolve tese de doutoramento com o tema El sucio y el limpio, estética y arquitectura en la Europa Occidental de la Post-Guerra sob orientação de Xavier Monteys. Trabalhou como arquitecto na Gaiurb-Urbanismo e Habitação EM (2003-2005).

Magda Seifert (Lisboa, 1980) Arquitecta. Integra a Circo de Ideias. Produziu e organizou os eventos Berlim: Reconstrução Crítica, 2008; Open Source, 2010; Viagens: 1ª Série, 2011; ou Anos 1980, Lisboa, 2012. Foi Assessora do Pelouro Norte 41º da OASRN, (2009-2014). Actualmente colabora com o Canadian Centre for Architecture (CCA) na transição do arquivo de Álvaro Siza para esta instituição.