«Desenhar espaços de liberdade» está em absoluta continuidade com o núcleo do que sempre me interessou no espaço. Se tivesse de indicar em poucas palavras algo do que julgo ter compreendido sobre o espaço, é a possibilidade da experiência e da abertura do pressentimento da liberdade que é essencial em cada lugar, «direito ao tempo» e «direito ao espaço» (que não são senão dois modos de declinar os nomes da liberdade).
FF
«Toda a paisagem não está em parte nenhuma» é uma frase retirada do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, que contribui para a reflexão sobre a cidade como uma forma de paisagem.
A minha intervenção, no âmbito dos Jardins Efémeros, é a de introduzir na Praça D. Duarte uma construção escultórica que modifique a espacialidade da praça e simultaneamente transforme a contemplação em atividade, a observação em deambulação e o espectador num ativador do lugar.
Esta construção escultórica é composta por longas vigas de madeira sobrepostas entre si, de cor intensa e luminosa, que se estende por quase todo o espaço da praça, criando diversos espaços dentro deste espaço. São vitais as ideias de horizontalidade e de leveza, sendo a escultura um lugar pensado para ser percorrido pelo corpo, num jogo de fora e dentro, de ligações e atravessamentos, numa experiência para o corpo e para o olhar dos visitantes, de todas as idades.
Sobre as vigas aparentemente suspensas e que atravessam o espaço, escrevem-se pequenas reflexões sobre paisagem. As frases, de diversos autores, abrem um espaço semântico dentro do espaço urbano e apelam à atenção de quem as lê. Uma das frases, do artista australiano Ian Burn, «Landscape is not something you look at, but something you look through», diz-nos que ver é pensar.
No seu todo, esta composição de formas abstractas e de texto convoca o espectador e transforma-o em usufrutuário do dispositivo escultórico, em relação com o espaço urbano e a envolvente cultural.
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Fernanda Fragateiro
Na sua extensa obra, Fernanda Fragateiro (Montijo, Portugal, 1962) desenvolve um trabalho fortemente apoiado num interesse por práticas artísticas e arquitectónicas da vanguarda do século XX. Um interesse que informa o próprio trabalho e muitas vezes ganha forma através de alterações subtis de paisagens ou objectos existentes, que naturalmente revelam histórias contidas em si mesmos. Trabalhando sobre uma vasta gama de materiais e referências, a sua obra conserva um estilo claramente definido, resultado de uma estética minimalista no que toca à forma, à cor e à textura da superfície.
Ao longo do seu percurso, Fernanda Fragateiro sempre usou a escultura e a instalação como principal meio de expressão, trabalhando sobre espaço nas suas variadas manifestações fenomenológicas — arquitectónica, escultórica, privada, pública, temporal, socialmente determinada —, seja através de obras de escultura, instalações, ou intervenções ao ar livre, como jardins, colaborações em projectos arquitectónicos ou obras que se baseiam na participação pública.
Fernanda Fragateiro expôs no Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra (Coimbra, 2017), Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (Lisboa, 2017), Galleria Nazionale d’Arte Moderna e Contemporanea de Roma (2017), na Fundação Eugénio de Almeida (Évora, 2017, 2015), Palm Springs Art Museum (2016), Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 2016, 2012, 2004; Paris, 2013; Londres, 2013), CaixaForum (Barcelona, 2016, 2004), Orlando Museum of Art (2015), Palais des Beaux-Arts de Paris (2015), Carpenter Center for the Visual Arts, Harvard University (Cambridge, 2015), Krannert Art Museum (Champaign, 2015), CIFO Art Space (Miami, 2014), Bronx Museum (Nova Iorque, 2014), Mitxelena Kulturunea (San Sebastian, 2014), MUAC Museo Universitario Arte Contemporáneo (Cidade do México, 2014), Dublin Contemporary (2011), Trienal de Arquitectura de Lisboa (2010), Institut Valencià d’Art Modern (Valencia, 2008), Centro Cultural de Belém (Lisboa, 2007), Centro Galego de Arte Contemporánea (Santiago de Compostela, 2006), Fundação de Serralves (Porto, 2005), Culturgest (Lisboa, 2003).
A sua obra está representada em várias colecções públicas e privadas, entre as quais: The Ella Fontanals Cisneros Collection, Miami; Fundación Neme, Bogotá; Fundação de Serralves, Porto; Fundação EDP, Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; António Cachola Collection, Elvas; Museu Coleção Berardo, Lisboa; Coleção de Arte Contemporânea da Caixa Geral de Depósitos, Lisboa; Centro Galego de Arte Contemporanea, Santiago de Compostela; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid; Marcelino Botín Foundation, Santander; La Caixa Foundation, Barcelona; Fundación Helga de Alvear, Cáceres.
Fernanda Fragateiro é representada pela Galeria Elba Benitez, Madrid; Arratia Beer Gallery, Berlim; Baginski Galeria/Projectos, Lisboa; e Josée Bienvenue Gallery, New York.