Coração. Num exercício da mais pura e livre imaginação, seria ele o padrão, a medida para toda e qualquer acção, a medida para a vida. Poucos terão sido e são os que dão mais ouvidos a este órgão vital do que Milford Graves.
O percussionista norte-americano desenvolve um trabalho ímpar ao agregar a matéria do intangível. Estruturas inimagináveis que se amarram. Arte e ciência no mesmo plano como se se tratasse de um dojo na acepção de «local do caminho», «lugar de iluminação».
A abrangência e profundidade da obra do percussionista norte-americano fica bem expressa no documentário Milford Graves Full Mantis, de Jake Meginsky. Seja a solo ou nas inúmeras colaborações com músicos, como John Zorn, David Murray, Sun Ra, Albert Ayler, Miriam Makeba, New York Art Quartet, entre tantos outros, transcorre o mais sublime dos humanismos. O coração como medida universal.
A Nariz Entupido convidou, em Abril, o Gabriel Ferrandini e o Ricardo Martins para desenvolverem um exercício em torno de Milford Graves e do documentário Full Mantis, no âmbito do Indie by Night. Ambos os músicos dispensam apresentações, tanto pela qualidade do trabalho que têm vindo a desenvolver, pelos projectos a que frequentemente se associam, como pela abrangência da pesquisa que assumem.
Vindos de backgrounds musicais aparentemente opostos, pensamos que faz todo o sentido uni-los, uma vez mais, nesta edição dos Jardins Efémeros, para trabalharem, uma e outra vez, a matéria do intangível. Não se trata de simples lógicas de associação de duas baterias, antes terem como medida do presente e universal — o coração. O Milford Graves abriu caminho novo, o Gabriel e o Ricardo continuam a explorá-lo.
Gabriel Ferrandini
1986, Califórnia. Pai moçambicano, mãe brasileira. Veio para Portugal em 96 e começou a tocar bateria aos 13 anos.
Músicos Internacionais com quem colaborou/gravou: Thurston Moore, Evan Parker, John Butcher, Joe Mcphee, Peter Evans, Rob Mazurek, Nate Wooley, Alex Zhang Hungai (Dirty Beaches), Ryley Walker, Arthur Doyle, The Pyramids, Axel Dorner, Steve Swell, Per Zanussi e muito mais.
Cena portuguesa: David Maranha, Pedro Sousa, Rodrigo Amado Motion Trio, Manuel Mota, Caveira, Red Trio, Sei Miguel, Margarida Garcia, e muitos mais.
Ricardo Martins
Apaixonámo-nos pelo Ricardo em Adorno e continuámos este romance com Lobster e Cangarra, fomos breves em I Had Plans e intensos em Suchi Rukara… e esta relação continua até hoje, onde Ricardo é motor do trio pós-punk Papaya e brilha em recentes colaborações com Filho da Mãe, ou juntamente com Joana Guerra, musicando a peça Nós matámos o cão tinhoso para a Companhia JGM. É ainda parte dos Jibóia, Earth Electric, e Pop Dell’Arte, tornando-se num dos mais ocupados e respeitados bateristas da música portuguesa.
Entre tudo isto, ainda arranjou tempo para colaborar com a Jeff — editora Londrina — na apresentação do seu primeiro projecto a solo, onde ao longo de um ano revelou digitalmente uma canção por mês, resultando na edição do 12″ Furacão.