Talvez um gongo não seja apenas um gongo. Talvez um gongo seja uma primeira revelação visual da possibilidade do som que produz, que imaginamos que pode produzir, mesmo antes de o ouvirmos a ressoar pelo espaço. Talvez o gongo seja também uma escultura, objeto de artista, podendo assumir diferentes formas, dependendo do desenho projetado ou da música que vislumbrou em imagens mentais. Até pode ser que a variação do relevo e a simbologia, ali inscrita, sugiram ainda outros sinais, que estilhaçam em significado simbólico um mundo visual e sonoro, que se joga no trânsito entre o material e o imaterial, o concreto e o imaginado, o ruído e o silêncio, e toda uma constelação de evocações, ressonâncias, ritmos, desequilíbrios, simultaneamente ancestrais, ritualísticos, hipnóticos, orgânicos, tecnológicos, …
Bio |
João Pais Filipe é percussionista, baterista e escultor sonoro do Porto. Futurista e tradicional. Ethno techno. Anda há muito pela música experimental, fez parte de projetos como Fail Better!, Space Quartet, Sektor 304, HHY & The Macumbas ou Talea Jacta. Em 2018 estreou-se com um álbum homónimo a solo. Este ano estreia-se numa instalação de gongos por si construídos, cada um esculpido em formas e relevos diferentes, de simbologias simultaneamente arcaicas e vanguardistas, orgânicas e metálicas, sagradas e profanas, que quer suspender numa espiral (daí o nome “Voluta”), prolongando a viagem circular iniciada no seu álbum homónimo de estreia. Apesar da aparente diferença – o músico e o construtor artesanal de gongos (e outros instrumentos) – faz tudo parte de uma mesma cosmologia, de que participa também o artista visual que procura com o som a expressão de uma tridimensionalidade, visionária de uma sonoridade que primeiro projeta na imaginação e depois encontra a sua forma justa no instrumento que constrói ou customiza para aceder a esse exercício visionário do som, seja por via da manipulação e transformação de materiais pré-existentes, que no álbum se materializa pela sonoridade customizada de peles e madeiras, seja na coleção privada de gongos que tem vindo a construir nos últimos quase 10 anos.