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FOGE!

Arquitetura | Literatura | Instalação paisagista
FOGE!

Sandra Oliveira
Local
Foyer do Teatro Viriato

Instalação | Sandra Oliveira

Texto | Patrícia Portela

Desenho de Luz | Cristóvão Cunha

Som | Rainforest, Francisco Lopez

Apoio | Decorplantas, Lda.

 

1

Se eu deixasse agora este jardim e parasse de pensar,

O jardim continuaria sem mim.

Mas se o jardim decidisse deixar-me,

Eu não poderia continuar sem ele.

2

Ela: Nada se encontra que não tenha sido deixado para ser descoberto.

3

Hortus: Ao que saberia o primeiro banquete?

Ela: Acreditas que descobrimos tudo pela primeira vez, uma só vez?

4

Hortus: foge

Ela: Temos tempo.

5

Ela: Como vim aqui parar?

E porque me detenho aqui?

Ela: Acabei? Era só isto?

6

Ela: O que faz uma célula decidir tornar-se numa árvore ou num ser humano?

Será cada célula prisioneira das circunstâncias?

7

Hortus: Não há diferença entre respiração e oxidação. Ambos partem o mundo em bocados e colam-no outra vez numa ordem diferente.

8

Ela: O jardim avança na minha direcção e eu não me mexo.

9

Ela: uma tangerina na garganta

Hortus: uma palavra entre paredes

10

Poderei dar fruto?

11

Ela: Se as palavras fossem uma substância física,

como células,

como componentes de um corpo,

mortas à porta da língua, antes de serem faladas,

arquivadas na boca como anéis de tempo no tronco de uma árvore de saliva,

poderíamos saber o que ficou por dizer?

12

Ela: A partir daqui divido-me.

Sei que não vou conseguir sair.

E que lá fora não está ninguém.