Mobile Menu
Categorias

APAGADA

ARTES VISUAIS | Estado de Emergência #1 | Escultura em cerâmica
APAGADA

Liliana Velho
Local
Rua Senhora da Boa Morte

A culpa de não ter trabalho é sempre nossa.

– “Não devias ter tirado esse curso. Estavas à espera do quê?”

Todos têm direito ao trabalho. O trabalho define-nos, dá-nos significação e sentido. E a falta dele obscurece-nos, perdemos o brilho, a força, e sobretudo a identidade.

Resistir. Reagir. Permanecer. Ficar.

Seguem-se anos de trabalhos precários, de serviços aleatórios e até bizarros. Horas, dias e anos incertos. Vamos medindo as variáveis. Ficamos ou vamos embora?

Apagada é uma escultura inspirada num gesto rotineiro do Alentejo. Nesta zona é comum caiar a casa, todos os anos. A cal protege as peças de barro das intempéries, seja o tijolo burro da parede ou a escultura do jardim. O desgaste da cal costuma acontecer sempre nas mesmas zonas, mas quando chega altura de caiar, a pintura é sempre completa. Assim nas peças mais pequenas, os pormenores vão-se perdendo até ficarem mesmo impercetíveis. Caiar é cuidar e proteger, mas em alguns casos é também perder a definição.

E assim é esta escultura, o retrato de uma ausência. Uma ausência fruto da adição da soma e não da subtração. Este é outro tipo de anulação da pessoa que é marcado pela adição de camadas, de momentos acumulados que nos transformam.

A proposta é retratar uma mulher sorrindo, (modelação em barro) e depois acrescentar-lhe camadas de cal até que a mesma esteja irreconhecível.

No final só fica um sorrisinho amarelo. Apesar de tudo resistimos.

Bio |

Liliana Velho (Lisboa, 1985) é uma artista visual, que tem dois corações, um em Viseu e outro em Montemor-o-Novo. Licenciou-se em Escultura da Universidade de Belas Artes de Lisboa (2009) e possui mestrado em Artes Visuais pela ARCA, Coimbra (2012) e atualmente frequenta o Doutoramento em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes do Porto (FBAUP). Nos últimos anos, Liliana tem-se dedicado à escultura em cerâmica, escolhendo o barro como o material mais importante na sua prática. Também trabalha com diferentes meios, como desenho, escultura e a instalação. Desde 2015, expõe regularmente, em exposições individuais e coletivas, colaborando com outros artistas. Atualmente vive e trabalha em Viseu.