O Habitar Portugal 2012-2014 pretende olhar a produção portuguesa no triénio a que corresponde a partir de duas ideias fundamentais. Uma das ideias decorre do tema proposto. A pergunta, está a arquitectura sob resgate?, decorre da condição em que o país viveu ao longo desse período de tempo e parece ser óbvio fazê-la, mesmo que as condições e as premissas em que foi feita pareçam não ser óbvias na selecção de obras apresentada. A arquitectura tem processos lentos e o espaço de tempo destas obras manifesta-nos isso mesmo, o impacto sobre os processos e a emergência das suas respostas ou das suas formas de adaptação ou de reacção, que não é necessariamente o resultado formal dos objectos construídos. As questões que esse processo levanta são tão importantes como as obras onde procuramos dele evidências. A segunda ideia, o palimpsesto, percorre os registos e as marcas sobre o território, facto que a reunião de quinze anos de produção arquitectónica que o HP congrega torna num oportuno enquadramento compatível com o tempo da arquitectura, e numa referência à sua possibilidade como registo do tempo.
Um dos temas que emerge como primordial é, por diversas razões, a identidade. Mundo Português, a exposição em que o HP se insere nos Jardins Efémeros permite discuti-lo com áreas diversas, que expandem o âmbito de uma questão disciplinar. A identidade foi o que tornou possível localizar no mundo uma arquitectura portuguesa. Simultaneamente, os processos de globalização de que fazemos parte absorveram a identidade da arquitectura portuguesa como uma manifestação de diferenciação, tornaram-na identificável e passível de ser absorvida num espaço cultural alargado de que fazemos parte. O processo de integração num espaço económico europeu alargado refez a identidade como um tema. Viseu e os Jardins Efémeros parecem ser um espaço oportuno para os discutir.
As obras que aqui destacamos, as que se inserem numa extensão territorial de proximidade com a cidade, lidam com o tema da identidade e da sua projecção. A realidade actual de Viseu, como a de outras cidades, lida também com um momento em que a ligação entre os centros históricos e a sua expansão parece levantar questões novas sobre com que modelos podem as cidades identificar-se. Perante a emergência de uma indústria do turismo que apresenta possibilidades novas, parece óbvio perguntar, quem habita a identidade de uma cidade?. Se a cidade que se expande desabitou a cidade anterior e há novas oportunidades para a ocupação dos núcleos identitários, como se faz essa ocupação no enquadramento de uma indústria turística globalizada? De que estamos a falar quando procuramos o perfil do novo ocupante sazonal perante o espaço vazio dos centros históricos, da identidade que se procura e que pode ser atractiva? Ou estamos a falar da desintegração dos seus habitantes que, ocupando-os, já não os habitam?
Programa I | Debate
Mundo Português: identidade e desintegração.
Oradores
Álvaro Domingues (geógrafo)
Dalila Rodrigues (historiadora de arte)
Pedro Silva (arquitecto)
João Mendes Ribeiro (arquitecto)
Moderação
Comissariado HP 12-14
Imagem Building Pictures