Natura vem do grego, é aquilo que brota, aquilo que está a nascer, é o renascimento em acto constante.
Aliado a uma curiosidade em explorar os clássicos da pintura japonesa no tema da natureza (paisagens, árvores e plantas) e que habitualmente está ligada às variações sazonais e ao tempo, houve um interesse na relação entre, por um lado, o constante crescimento dos elementos naturais e, por outro, a aparente fixidez das intervenções humanas, que como nos relembra Ruy Belo sofrem o mesmo ciclo de vida e de morte: “Oh as casas as casas as casas / as casas nascem vivem e morrem”.
A intenção foi explorar as variações de luz com foco em pormenores da natureza numa constante transformação do espaço, através de sobreposições de imagens emitidas por janelas de uma estufa no Jardim Botânico da Ajuda.
A simbiose entre imagem e som é complexa, especialmente considerando o ritmo em que o acto de escuta está a progredir. Elementar a este processo é a ausência de uma narrativa convencional que serve para melhorar o foco no detalhe, tanto visual como auditivo.
Em qualquer lugar, cada objecto funciona como um filtro para todos os sons circundantes que se encontram próximos, e no entanto a nossa percepção dos lugares nos quais despendemos tempo para observação permanece apoiada numa estreita e excessiva tradição romântica. Ao usar uma fonte sonora não audível pelos nossos ouvidos desnudados, neste caso uma ponte pedonal ressoada por uma leve brisa, gravada com microfones de contacto extremamente sensíveis, o observador tem a possibilidade de se desprender das expectativas geradas pelo elemento visual. O objectivo não é confundir o espectador, mas sim pedir-lhe para ser mais do que um simples observador, para redireccionar a sua atenção na nossa cultura, orientada para o visual, para uma que envolva as qualidades sonoras e visuais e a sua interacção.
Carina Martins e Jez riley French, 2016. Créditos: Score for a Footbridge (excerto), do álbum Portable Music — Three Scores de Jez riley French (2016).
Ano | 2016
Técnica | Vídeo | Som
Bio
Carina Martins (n. 1975). Reside em Lisboa e é tradutora e fotógrafa freelancer. Licenciou-se em Tradução de Inglês-Alemão e desde 2008 tem exercido actividade na área da fotografia em diversas instituições. Trabalhou no Jornal Centro, na Global Imagens e na Binaural/Nodar, como fotógrafa e na área de produção. Em 2016 terminou o Curso Avançado de Fotografia no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual.
Mais informação em: www.carinamartins.org
Jez riley French (n. 1965). Usando composição intuitiva, gravação de campo, improvisação e fotografia, Jez tem vindo a explorar, ao longo de 3 décadas, o seu interesse no detalhe, na simplicidade e na sua resposta emotiva a lugares e situações.
É, simultaneamente, orador em palestras (em várias instituições académicas, incluindo a Royal College of Art, Goldsmiths, Leeds Beckett, Universidade de Newcastle, Universidade de Lincoln e Universidade de Hull), realizando workshops de gravações de campo e sobre o acto e a arte de escutar em todo o mundo. A sua variedade de microfones especializados JrF tem sido amplamente usada por artistas sonoros, músicos e organizações culturais, constituindo uma influência significativa no desenvolvimento da cultura sonora nos últimos anos. É também curador das labels Engraved Glass e de A Quiet Position (séries de lançamentos/fóruns online que exploram as variadas ideias acerca das gravações de campo como uma arte sonora primária).
O trabalho mais recente inclui comissões para o Tate Modern (UK), Artisphere (EUA), Whitworth Gallery (UK) e para organizações em Itália, na Islândia, no Japão, em Espanha, na Finlândia e em Inglaterra. Uma secção da sua peça para o Tate Modern foi também escolhida para fazer parte da série 500 Years of British Art no Tate Britain.
Nos últimos anos tem trabalhado extensivamente em gravações de superfícies e de espaços (naturais e artificiais) e desenvolvido o conceito de partituras fotográficas. JrF está particularmente associado com o desenvolvimento de técnicas de gravação alargadas, incluindo a gravação de vibrações estruturais, gravações de microfones de contacto, de ultra-som, de infra-som, de sinais electromagnéticos por captadores de bobine e gravações com hidrofones.
Entre os trabalhos chave mais recentes estão peças que captam o som de dolomitas a dissolver-se, de formigas a consumir fruta, do edifício do Tate Modern a vibrar, do infra-som de espaços domésticos em vários pontos do mundo, de glaciares a derreter na Islândia, e das ressonâncias tonais de objectos naturais fabricados na paisagem.
Mais informação em http://jezrileyfrench.co.uk/cv.php